Resenha | Desobediência (2018)


Desobediência é mais do que um filme lésbico entre judias. É muito mais do que uma história de amor, ou o descobrimento da própria sexualidade. É um filme sobre a busca de quem nós somos, qual nossos lugares no mundo, e porque nos comportamos do jeito que nos comportamos perante a sociedade na qual vivemos.

Ronit (Rachel Weisz), uma fotógrafa transgressora e metropolita, recebe uma ligação dizendo que seu pai havia falecido. Seu pai era um rabino e lider de uma comunidade religiosa na Inglaterra, pra onde Ronit volta para acompanhar os ritos de seu funeral. Lá, ela encontra seu primo, Dovid, que acabou por casar com a paixão de infância de Ronit, uma mulher chamada Esti (Rachel McAdams). Sua volta causa um rebuliço na cidade, com seu estilo de vida, roupas e atitudes desafiando as práticas milenares da religião do local. E é no meio desses sentimentos absurdos, que Ronit vê sua paixão por Esti renascer.

O filme tem diversas alegorias para expressar a solidão humana, a dualidade de ser alguém e ter que agir como outra pessoa em socidade, e o risco que corremos ao nos expressarmos de acordo com a nossa essência. Talvez a mais óbvia alegoria seja as perucas de Esti. Sendo uma coisa regular na comunidade judia da Inglaterra, as mulheres tendem a usar perucas ao invés de seus cabelos naturais, por consideram que isso as deixa mais bonitas e arrumadas, quase de uma maneira idealizada. Em todas as cenas sociais e com seu marido, Esti faz questão de estar usando sua peruca. Mas nos momentos de intimidade com Ronit, a peruca é a primeira coisa a ser removida, fazendo uma alusão a como ela está finalmente sendo quem é de verdade.

Dovid, por sua vez, representa claramente o dualismo de entender quem Ronit e Esti são de verdade, devido a suas infâncias em conjunto, e a pressão que sofre em seguir os preceitos de sua religião. E isso só é inflado devido a ele ser considerado o melhor pupilo do falecido rabino, e provavelmente, quem assumirá o controle da comunidade. O espectador consegue sentir a dualidade de sentimentos que Dovid passa: ao mesmo tempo que quer que as mulheres de sua vida sejam felizes, ele entende a pecaminosidade de seus atos e os repreende.

Eu poderia discorrer por mais diversas páginas sobre as questões feministas: como as pessoas no filme pressionam as protagonistas para que tenham filhos, para que se casem; como se isso de fato fosse as tornar mulheres melhores. E como apesar de Ronit representar a mulher que conseguiu fugir disso, Esti é muito mais real pois representa a mulher que quer se libertar mas não consegue.

Agora, aos curiosos de plantão sobre a possibilidade das cenas de sexo: elas ocorrem. E deixam quaisquer filmes lésbicos no chinelo: com pouca nudez e muita sensualidade, o filme reflete o sexo de forma cru. Sem nojinhos, sem barreiras sociais, sem refletir o sexo lésbico como se fosse algo esperado do status quo pornográfico. O que torna tudo muito bom. Muito real, muito verdadeiro.

O filme cumpre o que promete. Vai além do esperado, até. E entra no hall de filmes LGBT+ que são extremamente necessários de serem assistidos. Inclusive andei pensando e: O que é Me Chame Pelo seu Nome perto de Desobediência?


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